As ideias positivistas tiveram repercussão mundial no contexto de crise social, política e espiritual que acompanhou o surgimento da sociedade industrial. No Brasil, esta influência foi determinante entre as décadas de 1880 e 1930, e teve seu principal momento na Proclamação da República, em 1889.
Os primeiros escritos que faziam referência à obra de Auguste Comte surgiram no Brasil por volta dos anos 1840-1850, provavelmente por influência de jovens brasileiros que foram aprimorar seus estudos na Europa. O pensamento de Comte ganhou primeiramente espaço no ensino das ciências e da matemática, sobretudo na escola militar, no Rio de Janeiro. A partir da década de 1870, as ideias positivistas começaram a deixar as academias e passaram a ser discutidas dentro de círculos políticos. Um deles foi a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, fundada em 1878, que mais tarde daria origem a Igreja Positivista do Brasil.
Neste momento, o Segundo Império já apresentava sinais de desgaste. A falta de abertura política e o atraso econômico gerado pela proteção dos interesses dos proprietários de escravos contribuíam para o isolamento político do Brasil. Neste contexto, os círculos positivistas funcionavam como laboratórios de ideias progressistas. Neles, discutia-se a abolição da escravidão, a promoção de direitos trabalhistas para o novo proletariado, a instauração de um estado laico e de um modelo republicano para o país. Não raro, os positivistas se posicionavam no debate público, manifestando com veemência sua opinião através da publicação de folhetos e de manifestos em jornais. Em 1881, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes fundaram oficialmente a Igreja Positivista do Brasil e começaram a sistematizar seu aparelho de propaganda política e religiosa, para instaurar uma República positivista no Brasil.A Proclamação da República ofereceu ao movimento a oportunidade histórica de intervir diretamente na organização política do país. Dois membros do Governo Provisório que tomou posse em 15 de novembro de 1889, Benjamin Constant (1836-1891) e Demétrio Ribeiro (1853-1933), eram positivistas e próximos da Igreja Positivista do Brasil. As pautas políticas defendidas pela instituição puderam, com eles, ganhar maior repercussão no novo regime.
Logo nos dias seguintes à Proclamação, Teixeira Mendes, vice-diretor da Igreja Positivista do Brasil, apresentou ao Governo Provisório seu projeto de bandeira nacional, com o lema positivista “Ordem e Progresso”, aprovado em 19 de novembro de 1889 pelo decreto n° 4. O Estado laico foi rapidamente adotado por decreto, em janeiro de 1890; o primeiro calendário de feriados cívicos nacionais, proposto por Demétrio Ribeiro a partir de um texto original de Raimundo Teixeira Mendes, também foi criado em 1889. Ele contemplava datas que o pensamento positivista considerava marcantes na história Ocidental e do Brasil, como a comemoração da descoberta da América, em 12 de outubro; a Abolição da Escravidão, em 13 de maio; ou o dia de Tiradentes, em 21 de abril.
A influência da doutrina positivista na vida republicana perdurou ao longo da Primeira República através da ação de vários estadistas. Benjamin Constant conduziu a Reforma da Instrução Pública de 1890 que introduziu os conceitos de laicidade e gratuidade no ensino público e instituiu aulas de Moral e Cívica. Ao falecer em janeiro de 1891, pouco antes de ser promulgada a primeira Constituição republicana, ele recebeu o título de Fundador da República. O Estado do Rio Grande do Sul teve por sua vez uma Constituição de inspiração comtiana, escrita pelo também positivista Júlio de Castilhos e promulgada na data simbólica de 14 de julho de 1891. O Marechal Cândido Rondon, membro da Igreja Positivista do Brasil, contribuiu no desenvolvimento de uma política indigenista e na idealização do Serviço de Proteção aos Índios - SPI - guiado por conceitos positivistas de integração entre os povos constituidores da nação brasileira.