Visita guiada

O Templo da Humanidade foi projetado segundo planta original do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), criador da Religião da Humanidade. Comte concebeu a Religião da Humanidade inspirando-se nas três grandes religiões monoteístas: Judaísmo, Catolicismo e Islã. A arquitetura do prédio traz referências sobretudo à religião católica; seus elementos simbólicos traduzem os princípios da filosofia e do catecismo positivista.

O Templo da Humanidade fica no n° 74 da rua Benjamin Constant, no bairro da Glória, Rio de Janeiro. Ao cruzar o portão que dá acesso ao prédio, o visitante passa sob a inscrição, em letras de ferro fundido: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos”. A frase faz referência aos ancestrais, necessariamente a cada dia mais numerosos, aos quais a Religião da Humanidade presta homenagem em seus cultos. A doutrina positivista não reconhece a vida após a morte. Para Comte, todavia, a Humanidade é constituída pelo conjunto dos homens vivos e dos mortos. A reverência aos antepassados é indispensável não somente para fortalecer o laço social entre os homens, mas também para assegurar a transmissão da cultura e do conhecimento entre as gerações e a continuidade na história da Humanidade.

Uma vez no pátio, sete degraus levam ao vestíbulo. Eles ilustram a escala enciclopédica de Auguste Comte, uma classificação das ciências da mais concreta a mais abstrata, da mais simples a mais complexa: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral.

A fachada principal do prédio, de inspiração neoclássica, é uma réplica do Panthéon de Paris, monumento onde estão enterrados os grandes personagens da história da França. Suas 18 colunas de concreto suportam um frontão triangular; o friso ostenta a máxima positivista: “O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim”. Sobre as três portas principais constam outras máximas da doutrina positivista: “Viver às claras” (ensinamento prático da moral positivista, no sentido de viver na transparência de seus atos), “Viver para outrem” (alusão ao altruísmo, palavra inventada por Auguste Comte e que fundamenta sua moral) e “Ordem e Progresso” (princípio político da moral positivista). As fachadas laterais, de pedras e tijolos aparentes, lembram a arquitetura industrial inglesa.

No piso do pórtico, uma rosa-dos-ventos indica os pontos cardeais e um ramo de rosas aponta a direção de Paris, berço da religião positivista para o qual Comte desejava que todos os templos fossem direcionados. Tal exigência não pôde ser cumprida no Rio de Janeiro em função da orientação do lote onde foi construída o templo; a rosa-dos-ventos vem, portanto, indicar a direção para a qual o prédio deveria apontar.

No interior do Templo da Humanidade, um novo lance de escadas leva à nave central, rodeada por 14 nichos laterais. Cada um corresponde a um dos 13 meses do calendário positivista,  e o último é dedicado à figura feminina. Dentro dos nichos, os bustos em gesso pintados por Décio Villares representam as personalidades históricas do panteão universal de Auguste Comte. Cada um está associado a uma área de conhecimento identificada pelo filósofo.

No fundo, o altar-mor expõe uma imagem da Humanidade, também de Décio Villares, e um busto de Auguste Comte do escultor francês Antoine Etex. Acima, um verso da Divina Comédia de Dantes faz referência à Virgem Maria. O altar-mor é rodeado de bandeiras dos países onde a Religião da Humanidade foi implementada.

Após a visita da nave, o visitante era convidado a conhecer a pequena sala anexa, onde eram distribuídos os folhetos impressos pela Igreja Positivista do Brasil.  No andar térreo, sob a nave, encontrava-se a antiga oficina tipográfica do Templo da Humanidade. Ao lado ficam as salas de trabalho, o escritório de Raimundo Teixeira Mendes e a sala de reunião da Delegação Executiva da Igreja Positivista do Brasil.

Até o desabamento do telhado, em março de 2009, o Templo da Humanidade abria aos domingos de manhã para as prédicas e em dias de comemorações cívicas. O prédio está atualmente interditado pela Defesa Civil. Por conta de sua importância histórica, ele é tombado pelo Iphan (2010), pelo Inepac (1978) e pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (2014). Poucos prédios no Brasil são tombados nas três esferas; um dos exemplos é o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.